Especial: “Não casa não, você é brava e vai tomar uma surra por dia!”

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Camila Oliveira

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Por: Juliana Ludovico

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O Portal Notícias ON preparou uma matéria especial para celebrar o Dia Internacional da Mulher, a fim de homenagear a todas mulheres que lutam pela igualdade de gênero, que fazem jornadas duplas na busca pelos seus sonhos, que são alicerce de suas famílias e que mesmo com todas as dificuldades não desanimam.

 

Vamos contar um pouco da vida e das dificuldades encontradas profissionalmente pela  Engenheira Civil moradora de Barueri Camila Oliveira de 32 anos, que há 7 anos atua na área da Construção Civil, ambiente até poucos anos atrás dominado por homens.

 

A engenheira nos contou toda a dificuldade enfrentada no início e o quão difícil foi encontrar uma forma de impor sua presença e conquistar o respeito dos companheiros de trabalho.

 

JNO- Quando você escolheu a engenharia como profissão, já era claro para você atuar em canteiros de obras?
CAMILA -
Quando iniciei o curso tinha vontade de atuar em fundações, porém o mercado me levou para o ramo de acabamentos. Trabalho com obras de grande porte, por todo Brasil.

 

JNO - A engenheira Civil é um ambiente bem masculino começando pela universidade. Como foi pra você lidar com essa ausência de mulheres  e com o machismo na área? 
CAMILA  -
No início foi muito difícil, sofri muito preconceito por ser mulher, nova e sem experiência. Por ser ambiente de trabalho que é em sua grande maioria masculino, tive que lidar com diversas situações em que me rebaixavam por ser mulher, aquele negócio de “mulher não manda em mim” “mulher tem que lavar louça”, então no início como entrei em na função de liderança tive que me impor para ganhar meu espaço. Com o tempo fui arrumando jeitinhos para conquistar meu espaço e mostrar meu trabalho.

 

JNO -  Você já viveu alguma situação de assédio dentro das obras?
CAMILA -
Inúmeras vezes, começa chegando dentro da obra na hora de cumprimentar a pessoa e ele te abraçar para te “apertar” mais forte, já ouvi coisas do tipo “Você é brava pq não tem um namorado que te trate do jeito que você precisa". Certa vez um encarregado de obras me disse: você é casada? Eu respondi que não. Ele então falou: então não casa não, pq vc é brava e vai tomar uma surra por dia! Dei risada e respondi: é mais fácil eu dar uma surra por dia nele. 
Tive que com o tempo ir ganhando meu espaço. Quando entrava em reunião e o engenheiro responsável entrava em um assunto específico da obra, achando que eu não entendia, eu tinha que mostrar meu conhecimento e sempre falar com firmeza para ganhar a confiança e executar o serviço melhor do que as pessoas esperavam para ganhar credibilidade.

 

JNO - Na sua área a mulher tem a mesma remuneração que o homem?

CAMILA - Na empresa em que eu trabalho somos muito valorizadas, pois na função que exercemos com fiscalização das obras nossos salários são iguais aos dos meninos. Agora no mercado de trabalho não, pois o salário da mulher é equivalente a uma média de 80% do salário do homem.

 

JNO - Qual seu sonho profissional? 
CAMILA -
Essa é a pergunta mais difícil de responder pra mim no momento. Porque no momento eu atingi o cargo de liderança que eu almejava. Porém ainda quero fazer novos cursos para aprimorar conhecimento como gerenciamento de projetos pq acredito que mais pra frente não terei o pique de obra, então optarei por áreas que fiquem mais em escritórios e não tenha que lidar tanto com pessoas. 

 

JNO - O que você diria para as mulheres que querem ingressar na área? 
CAMILA -
Força, paciência e muito foco! Mostre para o que veio, tenha firmeza nas suas palavras e nas suas atitudes. Se empenhe em conhecimento e tenha propriedade no assunto que for falar. Nós vamos dominar o mundo e estamos bem próximas disso.E nunca se deixe levar pelas falas pejorativas como: “aí quer igualdade, mas descarregar um caminhão de bloco não quer!” Porque na verdade, ninguém quer, nem eles.


Dia Internacional da Mulher

Dia 08 março é comemorado o “Dia Internacional das Mulheres”, esta data marca a luta das mulheres operárias do final do século 19 pelas melhores condições de trabalho, fim do trabalho infantil e equiparação salárial. Apesar de toda luta, a data só foi reconhecida mundialmente pelas Nações Unidas em 1977.

 

É importante ressaltar que 8 de março não é uma data festiva, e sim de resistência, luta e de mobilização para discutir as discriminações e violências morais, físicas e sexuais já sofridas por mulheres.


 

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