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Todos sabemos a importância de uma foto para contar histórias, seja do passado ou de situações corriqueiras do dia a dia.
A primeira fotografia foi tirada em 1986, graças a essa brilhante invenção a história pode ser contada com tantos detalhes, ilustrando e nos levando para lugares que jamais estivemos.
Por trás de toda a foto, seja ela tirada do celular ou de lentes de um profissional da área, existe um fotógrafo.
Quem mora em Barueri com certeza já se pegou admirando as fotos de Benjamim Sepulvida, jovem fotógrafo, que aos 20 anos descobriu seu amor pela fotografia, e desde então tem construído uma carreira promissora, ganhador do Prêmio BFS 2019 (internacional) e Fotógrafo do ano pela AMECOM (Regional), Criador método P.H.O.T.O, e autor do livro Os Códigos Secretos da Fotografia.
O Notícias ON conversou com Benjamin para saber um pouco mais sobre sua trajetória e trabalho que tem enriquecido o acervo histórico de Barueri.
JNO - Como você ingressou no universo da fotografia?
Benjamim: Eu sempre fui apaixonado pelo audiovisual, acredito que tenha herdado isso dos meus pais, que em certo momento de suas vidas também foram fotógrafos. Meu primeiro contato com a área foi com 13 anos, eu fui convidado para participar de um projeto da Prefeitura de Barueri chamado Jornal Mirim. Nele passei por todas as áreas de uma produção de telejornalismo, foi uma iniciativa bem legal, semanalmente às matérias eram apresentadas na TV Alphaville. Quando atingi a idade de trabalhar, me joguei no audiovisual, passei por diversas produtoras e órgãos públicos, já fui diretor de imagem, editor e cinegrafista, mas descobri que minha verdadeira paixão era pela fotografia. A ficha caiu quando eu tinha uns 23 anos e comprei minha primeira câmera DSLR. Com o tempo, deixei a produção cinematográfica em segundo plano e foquei todos meus esforços no conhecimento da arte fotográfica.
Hoje posso afirmar que não me imagino fazendo outra coisa do que congelar o tempo.
JNO - No início foi difícil conquistar seu espaço?
Benjamim: Ainda é! Me considero bem-sucedido não só como profissional da fotografia, mas como empresário desse mercado. Mesmo assim, conquistar o meu lugar ao sol não foi e não é fácil. Preciso provar diariamente que mereço as oportunidades que tenho. A parte mais difícil é dentro da própria comunidade de fotógrafos, eu sou considerado um bebê perto de grandes nomes, e ter feito tanto com tão pouca idade acaba sendo uma barreira para outros profissionais que têm de profissão o que eu tenho de idade. Por isso que dedico uma boa parte do meu tempo em ajudar outros profissionais da fotografia a aperfeiçoar seus conhecimentos. Não me importa a idade ou o equipamento que um fotógrafo tem, mas sim o resultado que ele apresenta. Eu respeito muito pessoas que buscam a excelência e resultados positivos. Principalmente os que, dia a dia, continuam estudando, mente que não expande o corpo retrai.
JNO - Qual foi a situação mais difícil que você fotografou?
Benjamim: Houve muitas situações em que passei por momentos que posso chamar de difíceis. A parte mais difícil da minha profissão é manter a mente tranquila e focada no meio do caos. Posso listar três situações que realmente foram um desafio para mim. A primeira foi em uma missão com uma comitiva da ONU e Congresso Nacional, fomos até a fronteira entre Brasil e Venezuela, entender de perto uma das maiores crises migratórias da história do nosso país. Nesse episódio pude registrar situações em que nenhum ser humano deveria estar. Como pai, ver crianças com fome, em ambientes insalubres e inseguros não foi fácil. Nossas experiências sempre âncora com algum dos nossos sentidos, além das imagens que fiz, nunca vou esquecer do cheiro de morte que senti lá. A segunda foi quando fotografei uma UTI de covid. Nossa, que insanidade! Logo de cara o choque foi gigantesco. Eu fotografei pessoas lutando por suas vidas, profissionais da saúde no limite do cansaço acabei presenciado o falecimento de pacientes, mas o que lembro até hoje, é o som do O2 no máximo apitando em coro com a respiração cansada dos pacientes. A terceira, talvez seja a que me trouxe mais luz para o meu trabalho que foi o incêndio no Jd. Califórnia em Barueri. Eu cheguei poucos minutos após a chegada do Corpo de Bombeiros e de cara já fui apresentado a um cenário caótico.
Em meio à toda aquela tragédia eu tive duas opções: mostrar a destruição e caos ou mostrar os atos de heroísmo do corpo de bombeiros, defesa civil, GCM, PM e outros inúmeros profissionais que estavam empenhados em ajudar. Escolhi a segunda opção e pude através das minhas fotos comover pessoas e registrar o quão heroico foram aqueles profissionais. As imagens viralizaram e nesse fatídico dia recebi 103 mil visitas apenas no meu perfil do Instagram. Recebi mensagens de pessoas de diversas partes do Brasil e do mundo. O que mais me marcou além da tensão, foi o calor quase sobrenatural que eu sentia saindo do chão, mesmo a algumas dezenas de metros do centro do incêndio.
JNO - No caso do incêndio no Jardim Califórnia, como foi decidir mostrar o outro lado da tragédia?
Benjamim: Ir na contramão do que o mercado de fotojornalismo faz não é uma escolha fácil, mas acho que eu sempre tive isso, acredito que a parte mais importante da nossa existência é o outro. O que vale nossa vida se não for para os outros? Eu queria que as pessoas vissem o que eu estava vendo queria que enxergassem os verdadeiros heróis, que estavam entregando mais do que seus corpos permitiam, sofrendo junto com a população e colocando suas vidas em risco em prol das outras vidas. Hoje eu sei que fiz a escolha certa. Acredito que nesse dia eu cumpri o meu papel e fui guiado e abençoado por Deus para dar crédito a quem os merece. Eu só fui uma ferramenta, feliz de ter sido utilizada por um propósito nobre.
JNO - Você foi premiado por uma foto que tirou no dia incêndio, qual foi seu sentimento ao receber o prêmio pela foto tirada no incêndio por uma foto tirada em um dia, como você mesmo relatou de muita dor?
Benjamim: O reconhecimento na minha área de trabalho é algo difícil de acontecer, as pessoas esquecem muito fácil das fotos, mesmo as que causam impacto na vida delas. Esse fenômeno é um dos efeitos colaterais por sermos bombardeados com uma grande quantidade de imagens. Por esse motivo, quando nós fotógrafos somos reconhecidos com prêmios, isso tem um valor muito grande. Nesse caso, tem um peso ainda maior quando fui premiado na minha cidade. Sou muito grato e feliz por isso.
JNO - É mais difícil registrar tragédias, momentos de tristeza do que outras situações?
Benjamim: Sim, muito! Tem algumas questões importantes quando se trata desse tipo de fotografia, uma delas é a responsabilidade em mostrar a verdade, ela sempre tem que prevalecer, não cabe a mim o julgamento, apenas o registro. Outro ponto é virar a chave e ter a noção que minha função é registrar, mesmo sendo difícil, tenho que não me envolver emocionalmente na hora do click, ser frio em meio à tragédia, isso ajuda a tomarmos decisões assertivas na hora da foto. Mas o ponto principal é se manter seguro, se me coloco em risco, outros profissionais como bombeiros e policiais, tem que abandonar suas funções para me ajudar, isso traz ônus para a operação que estão realizando e isso é inaceitável.
JNO - Qual seu maior objetivo hoje como fotógrafo?
Benjamim: Meu maior objetivo hoje é impactar a maior quantidade de pessoas possíveis com minhas imagens, além de transmitir meu conhecimento para outros profissionais. Não vou negar que sou um nerd da fotografia e trato ela mais como ciência do que manifestação artística e social. A fotografia é uma forma rápida e eficaz de entregar uma mensagem, tem um poder de mudar as pessoas, um exemplo disso é várias ações políticas no mundo foram tomadas depois que fotos viralizaram.
Eu busco esse tipo de efeito nas minhas fotografias. Pode ser que eu seja apenas um sonhador, mas quero que quando eu passar o bastão, outros possam continuar a perseguir esse alvo.
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