Especial “Óbitos já são complicados de notificar, quando morre adolescente e criança, o peso é maior”

Descrição da Fotos

Enfermeiro Fernando César Vieira

Autor

Por: Juliana Ludovico

Texto da Matéria

Os profissionais da enfermagem têm uma presença determinante na vida de qualquer pessoa que necessite de assistência à saúde básica. Além disso, ele é o profissional que tem participação marcante antes, durante e após qualquer procedimento cirúrgico.

Por esses motivos, são profissionais indispensáveis ao serviço público e para a sociedade como um todo. A pandemia da Covid-19 serviu para evidenciar ainda mais a importância desses profissionais na manutenção da saúde e bem estar da população.

Desde o início do caos e lotações de hospitais causados pelo vírus, profissionais da saúde se mobilizaram em todo o mundo, trabalhando no limite da exaustão emocional para salvar o maior número de vidas possível. No meio da crise sanitária sem precedentes a área da enfermagem foi uma das que mais ganhou relevância e protagonismo.

E hoje 12 de maio é comemorado o Dia Internacional do Enfermeiro, no Brasil ainda se celebra entre os dias 12 e 20 de maio a Semana da Enfermagem, data instituída em meados dos anos 40, em homenagem a Ana Néri, enfermeira brasileira e a primeira a se alistar voluntariamente em combates militares.

Diante de tantos fatos importantes, entrevistamos o Enfermeiro Fernando César Vieira, morador de Barueri e que atua há mais de 16 anos na saúde pública de Barueri, para compartilhar com nossos leitores um pouco do dia a dia de um enfermeiro na cidade.

JNO - Como você descobriu que a área da saúde, mais precisamente a enfermagem era a profissão que você gostaria de seguir?

FERNANDO - Bom o interesse apareceu durante o colegial, pois eu sempre fui muito bom em matérias ligadas as área de biológicas e humanas. Em um determinado momento uma professora chamada Sra. Norma me deu uma dica, “Fernando, porque você não tenta fazer faculdade na área da saúde? Você é um garoto inteligente e que vai muito bem nessas matérias, acho que esse é o seu caminho”. Foi então que comecei a olhar com mais atenção para essas áreas e acabei por me identificar com a enfermagem. Com isso, ao me inscrever no curso superior escolhi a “enfermagem” como primeira opção e como segundas opções nutrição e fisioterapia. Passei na minha primeira opção e hoje após 16 anos sigo feliz e realizado na minha escolha.

JNO - O enfermeiro é responsável por toda a equipe de enfermagem (técnicos/auxiliares), conta pra gente como é liderar um grupo de profissionais que são responsáveis por cuidar da saúde de outras pessoas?

FERNANDO – É bem difícil! Contudo, ao longo da nossa carreira vamos aprendendo e se aprimorando nas questões de liderança e comunicação, para que as questões técnicas sejam de fácil entendimento e que a equipe possa desempenhar com segurança, profissionalismo e acima de tudo com muita humanidade. Não é uma missão fácil, pois quando falamos em saúde é sempre um desafio, e o objetivo final é fazer com que nossa equipe atue com amor, mesmo com todas as dificuldades que encontramos pela frente.

JNO - Este ano podemos comemorar a redução no número de internados pela covid, e o caminho para o fim da pandemia. Como foi viver o caos de uma pandemia estando dentro do olho do furacão?

FERNANDO – A questão da pandemia foi algo inesperado, por essa razão deu muito trabalho e foi desgastante, contudo nossa área se mostrou unida, forte e imprescindível para conter o caos. Atualmente eu não trabalho na área de assistência (ou seja, não atendo diretamente paciente), eu atuo na área epidemiológica. No entanto, tive Covid-19 logo no início, e foi muito complicado, pouco informação, um vírus letal, eu fiquei muito assustado. Eu também perdi muitos amigos pessoais, pessoas que trabalhei junto por anos, infelizmente a área da saúde sofreu em razão das diversas perdas. Mas estava consciente de que a qualquer momento a chefia poderia me escalar para atuar na assistência, mas mesmo assustado estava pronto. Foi triste demais, ver todo mundo com medo do que ainda estaria por vir, mas firme dentro do propósito que é salvar vidas.

JNO - Ao longo desses 16 anos de profissão, qual foi a situação que mais te marcou?

FERNANDO – Foi em um plantão de emergência onde aconteceu um acidente de trânsito envolvendo três adolescente da mesma família, infelizmente um deles foi a óbito. Foi muito triste ter que acompanhar o médico do plantão para informar a família do adolescente (mais precisamente a mãe) sobre seu óbito. O adolescente tinha apenas 14 anos. Não desmerecendo as demais idades, porém quando falamos em crianças a dor é imensa. Em todo esse tempo de enfermagem, tudo que envolve criança e adolescente me deixam mais sensível, tanto que atuei pouco nessa área, não consigo explicar o que sinto. Outra situação que me marcou foi essa parte da pandemia que principalmente no início recebíamos praticamente todos os dias a informação de que um amigo da saúde testou positivo para covid-19, ou que entrou em óbito.

+ outras notícias

Seja o primeiro a comentar